Zepelim |24.02.2010| Radio Fragments de André Castro

O Zepelim convidou o artista sonoro André Castro, para visitar os estúdios da Rádio Universidade de Coimbra e apresentar o seu novo projecto Radio Fragments.

Uma estação de rádio é sintonizada, e o software desenvolvido por André Castro, Radio Fragments a partir da plataforma SuperCollider, analisa e selecciona em tempo-real, aquilo que normalmente se procura evitar em contexto radiofónico: pausas, indecisões, espirros, ruídos, espaços mortos. Fragmentos de rádio que são desmultiplicados por diversas camadas de processamento aleatório, originando o tecido sonoro que compõe Radio Fragments. Criam-se espaços entre espaços, não-ditos, hesitações, o respiro antes da palavra e o silêncio. Numa altura em que as rádio nacionais, clonam blocos maciços em formato playlist coloridos pelos mais diversos filtros, Radio Fragments parece servir como um manifesto que devolve ao espaço radiofónico, o erro e a imperfeição.

No início da emissão, ouvimos  a leitura de António Sérgio a um excerto de um conto de Heinrich Böll, “A colecção de silêncios do Dr. Murke”, presente no livro “Contos Irónicos”.

Biografia:

André Castro é um artista sonoro, licenciado em artes sonoras pela Universidade de Middlesex, Londres. Começou a sua formação artística pelas áreas da dança e da performance no c.e.m – centro em movimento no ano de 2001. Foi neste espaço que iniciou o seu trabalho com materiais sonoros, e no qual tem vindo a apresentar e a desenvolver alguns dos seus projectos.

Na sua prática tem-se movido constantemente entre dois universos; Umas vezes pelo mundo da música por computador, com as a suas texturas meditativas, ruídos, blips, algoritmos e construção de software específico. Outras vezes, voltando costas ao ecrã do computador, decide sair com um microfone e dedicar-se à captura da incrível diversidade sonora que nos rodeia, e das vozes e histórias que se escondem em cada pessoa. Comum a estas duas vertentes é o despojamento de elementos visuais que tem caracterizado a maioria dos seus trabalhos.

Para além dos projectos a solo, parte importante do seu trabalho tem-se desenvolvido através de colaborações com coreógrafos, artistas visuais, músicos, e cientistas com um projecto de sonificação de dados científicos realizado no Departamento de Física da Universidade de Aveiro, integrado no programa Experimentação Arte | Ciência e Tecnologia.

Em 2008 concluiu uma série de três documentários sonoros intitulados  Subterrâneos de Lisboa, dedicados ao pouco conhecido mundo subterrâneo desta cidade.

Destaca ainda o projecto Boat People – uma série de registos áudio, de conversas tidas com pessoas que vivem e trabalham em barcos nos canais que cruzam Londres e no rio Tamisa.

Integra, desde 2001, a estrutura c.e.m – centro em movimento.

Radio Fragments (Instalação):

Radio Fragments é uma instalação sonora que procura explorar uma atenção auditiva, diferente da associada à experiência de ouvir rádio, fazendo uso dos espaços-entre-palavras-ou-música ocorridos durante uma emissão radiofónica.

A formula base desta instalação consiste num mecanismo de análise-controle (construído no ambiente de programação para síntese e processamento de som SuperCollider) existente num computador e alimentado ao vivo pela emissão de uma estação de rádio mainstream. Este mecanismo actua em tempo-real sobre a emissão radiofónica, como um noise-gate às avessas, evidenciando aquilo que é normalmente ignorado ou mesmo evitado num contexto radiofónico (suspiros, gaguejos, pausas, espaços-mortos e erros), e suprimindo todos os outros sons tais como palavras ou músicas. Estes fragmentos tornam-se a matéria prima a partir da qual a narrativa sonora de Radio Fragments é construída, fazendo uso de diversos processos de manipulação de áudio, que actuam sobre os fragmentos, desdobrando as suas potencialidades sonoras.

Recentemente, um sistema de luz reactivo, construído com Arduino, foi acrescentado à instalação, o qual reage ao surgimento dos fragmentos, intensificando a intensidade lumínica do espaço momentaneamente, para voltar ao seu estado inicial obscuro assim que o fragmento se deixa de ouvir.

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(edit: links actualizados)

Carlo Patrão &  Afonso Biscaia