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Zepelim de 5.5.2010 – Mediale Musik

O último Zepelim começou a explorar a compilação Okkulte Stimmen – Mediale Musik, recordings of unseen intelligences 1905-2007, editada pela Supposé no ano de 2007, e que reúne mais de um século de gravações áudio de encontros com o sobrenatural. Nesta emissão ficámo-nos pelo primeiro dos 3 discos que compõem Mediale Musik, e que inclui gravações de possessões, exorcismos, contactos com “o outro lado”, e até uma tentativa falhada de comunicação com o famoso Harry Houndini.

Alinhamento:

Outer Space – Side B [Sea of Vapors, 2008] [0m55s-16m19s]

Voices of Possessed Children I (Jan/1978) [2m25s-5m55s]

Einer Nielson Phantom Voices, rec. Copenhagen 1950 [5m20s-9m19s]

Voices of Possessed Children II (Fev/1978) [10m24-13m19s]

Erik Jan Hanussen – The Clarvoyant Record (20/Fev/1932) [15m35-18m48]

Rudi Schneider – Trance Breathing rec. London 1933 [17m09s-26m21s]

Rita Goold as “Russel” rec. Leicester 18/Nov/1983 [25m30s-29m44s]

Caboladies – Side B [Atomic Weekender, 2009] [28m16-42m54s]

Jack Sutton in Trance Contacts Dead Airman rec. Norfolk [31m02s-33m09s]

Leslie Flint as Churchill rec. London 1980 [34m07s-37m23s]

Leslie Flint as Oskar Wilde rec. London 2/Mai/57 [34m07s-40m50s]

Leslie Flint as Charlotte Brontë rec. London 5/Abr/1973 [38m00s-41m51s]

Exorcism carried out on Anneliese Michel, Germany 1978 [42m43s-45m41s]

Fourth Realm – Another Crashed File [Pattern of Visions, 2010] [45m30s-48m16s]

Minnie Harrison – Sam Speaks Through Trumpet, rec 5/Jan/1954 [47m26s-51m18s]

Fourth Realm – Blent, Blent, Blent [Pattern of Visions, 2010] [48m17s-50m04s]

Fourth Realm – Chuck Niles [Pattern of Visions, 2010] [50m05s-52m58s]

The Final Houndini Séance, rec. Hollywood, USA 31/Out/1936 [54m37s-60m00]

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José Afonso Biscaia

Zepelim |29.04.2010| Portugal: Turismo Radiofónico

"estranha terra esta, onde os bois até lavram  no mar" Raul Brandão
“estranha terra esta, onde os bois até lavram no mar” Raul Brandão

Zepelim desta semana fez-se em formato postal sonoro. Apresentámos uma colagem com diferentes realidades sonoras do nosso país desde tradições orais, a field recordings ou música experimental. Ao longo de toda a emissão podemos escutar alguns excertos e faixas completas presentes na Antologia de Música Electrónica Portuguesa organizada por Rafael Toral e editada pela Tomlab em 2004. Sobre esta antologia Rafael Toral escrevia em 2003: O meu objectivo foi o de tecer um fio histórico que ultrapasse livremente fronteiras entre os territórios culturais dos autores e documentar a maior diversidade possível de abordagens à electrónica, tanto a nível material como conceptual (…). Esta antologia sintetiza os maiores nomes da música electrónica experimental feita em Portugal, e podemos escutar registos desde o período pré-25 de Abril até aos finais da década de 90.  Desta antologia  retirámos a composição de Isabel Soveral anamorphoses i de 1994, Soveral formou-se pelo Conservatório Nacional de Lisboa onde estudou com o compositor Jorge Peixinho, é actualmente professora de Composição e Teoria e Análise Musical na Universidade de Aveiro. Adicionámos ainda um excerto da composição Silence to Ligh (1992) de João Pedro Oliveira e Lisbon Revisited de Emanuel Dimas de Melo Pimenta, músico, arquitecto, fotógrafo e artista intermédia cuja a sua obra tem sido reconhecida e elogiada ao longo do tempo por nomes como John Cage, Ornette Coleman ou Merce Cunningham.

Ao obscuro registo da antologia de Toral adicionámos música tradicional proveniente essencialmente do norte do país. Utilizámos as gravações de Max Peter Baumann e Tiago de Oliveira Pinto, realizadas em Portugal entre o mês de Março e Abril de 1988 que deram origem à compilação Musical Traditions of Portugal (vol.9) inserida na colecção The World’s Musical Tradition editada pela Folkways em 1995. A primeira faixa que ouvimos tem o nome de Soldados Violadores e é uma balada cantada sem acompanhamento instrumental, e que nesta versão podemos ouvir na voz de Marta dos Anjos Martins Fidalgo, uma habitante da freguesia de Duas Igrejas (em mirandês Dues Eigreija) do conselho de Miranda do Douro. Este tipo de canções tradicionais encontram-se mais conservadas na zona norte de Portugal continental e nos Açores. Muitas delas estão associadas a celebrações religiosas, a horas específicas do dia de trabalho, ou simplesmente como partilha em serões familiares juntos à lareira.  A canção Soldados Violadores, conta a história de um rapto e violação de uma jovem rapariga que se vê obrigada a refugiar-se nos montes face à vergonha e desonra. Várias versões desta canção foram encontradas, para além do distrito de Bragança, em Vila Real, Guarda, Viseu, Castelo-Branco, Coimbra, Lisboa e Faro.

Esta canção foi também encontrada fora do território português em comunidades sefarditas de Marrocos, o que nos dá uma pista da sua antiguidade se tivermos em conta que os sefarditas se refugiram em grande parte no norte de África entre o período de 1478 a 1834 fugindo das perseguições da Igreja Católica.

Modelos da relação entre música, cultura e contexto geral (Oliveira Pinto, 2001)

Cruzámos as anteriores recolhas com as presentes em Porto- Folklore Fragments vol. 2, da dupla Alejandra & Aeron. Alejandra Salinas é espanhola nascida em 1977 em La Rioja, enquanto que Aeron Bergamn (1971) é um americano de Detroit, actualmente a leccionar na Academia Nacional de Arte de Oslo, cidade onde o casal está radicado. O trabalho desta dupla estende-se por diversas linguagens intermedia desde o som ao vídeo, instalação, etc. Alejandra  & Aeron realizaram uma pesquisa e levantamento sonoro de La Rioja dando inicio à colecção Folklore Fragments. Em 2005, escolhem a cidade do Porto para o volume 2. Um disco que apresenta uma visão social, política e estética das propriedade sonoras do ambiente que rodeia o Porto, celebrando as peculiaridades e imaginário da cidade

Alejandra Salinas & Aeron Bergman

invicta e da sua região. Dessas gravações escolhemos ouvir o ambiente sonoro captado nas caves Graham’s conhecidas por produziram Vinhos do Porto Vintage, marcados por: cor rubi/púrpura opaca e escura. Aromas de violetas exalam do copo! Na boca, sabores inesgotáveis de amoras silvestres maduras revestem o palato.Estrutura de grande profundidade com sabores de alcaçuz-doce que combinam com taninos firmes, dotando este vinho de uma complexidade excepcional. Liberta um longo e persistente aroma (Peter Symington, 2003). Escolha inteligente do casal Alejandra & Aeron? Para lá desse registo escutámos, uma curiosa gravação da Festa da Bugiada em Sobrado (Valongo) que se realiza no dia de S. João (24 de Junho), e tem como pano de fundo a encenação da disputa entre cristãos (Bugios) e mouros (Mourisqueiros) por uma imagem milagrosa do santo (informações mais detalhadas aqui).

Festa da Bugiada em Sobrado (Valongo)

À parte do disco Porto-Folklore Fragments vol. 2, escutámos a faixa Imperfect Reliability gravada em 2008 no pequeno Museu das Rendas em Vila do Conde, onde se encontram durante a semana das 9-17h, mulheres rendeiras formando uma autêntica instalação sonora em permanência  no Museu. Esta é uma gravação realizada no âmbito do Circular: 4º Festival de Artes Perfomativas de Vila do Conde [2008] e nela podemos escutar o som produzido pelas rendeiras. Um som que facilmente podemos confundir com chuva, espanta-espíritos ou porque não, música electrónica (?)…

Adicionámos ainda uma presença já habitual no Zepelim, as gravações de campo de Luís Antero, numa das suas mais recentes ediçõesSound Narratives vol. 4 (Bypass, 2010) onde podemos encontrar sonoridades de animais, água e ambiências de várias localidades da zona da Beira Serra. Luís Antero nos últimos anos tem vindo a construir um profundo retrato desta região através de field recordings inalterados que disponibiliza para download gratuito para que possamos guardar valiosos pedaços da memória rural.

Luvas de Rafael Toral no projecto “Space”

Bem perto do final da emissão podemos escutar a faixa Portugal: Qual é o caminho da Praia de Stu Phillips, compositor do famoso genérico de Knight Rider, aqui num tema encontrado na banda sonora de um documentário de surf de 1969 de nomeFollow me (trailer), que atravessa as praias de Cascais, Guincho e Nazaré. Já a pontuar o início e o fim do programa apresentámos um antigo spot publicitário da companhia aérea americana Pan Am que para além de vender as suas viagens, vendia essencialmente uma ideia de aventura e de arrojo inconsequente…

Portugal – Get up and Go!

leave the phone off the hook

teach the cat how to cook

be a man not a mouse,

sell your car,

rent your house

get away right away like today

For once in  a life time get into this world

PODCAST:

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Carlo Patrão

Zepelim de 21.4.2010 – Reddy Record for Boys

O Zepelim do dia 21.4.2010 foi dedicado ao Reddy Record for Boys, uma misteriosa gravação – aparentemente dos anos 50 ou 60, mas sobre as quais faltam informações concretas – destinada ao público infantil. No Reddy Record, as crianças podiam encontrar uma amiga sempre cheia de vontade de conversar e descobrir mais  sobre e com os seus pequenos donos. Esta pequena e estranha pérola foi encontrada no sempre aconselhável blog da WFMU, rádio independente do FM nova-iorquino. Como acompanhamento, pudemos escutar “Vivian & Ondine”, último trabalho de William Basinski, dedicado às suas duas sobrinhas recém-nascidas.

Alinhamento:

1. Reddy Record for Boys – Lado A

2. William Basinski – Vivian & Ondine [Vivian & Ondine, 2010]

2.1, 2.2 – gravações de crianças

3. Reddy Record for Boys – Lado B

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José Afonso Biscaia

Zepelim |14.04.2010| Um passeio sonoro pelo Monopólio

Nesta emissão de Zepelim, pretendemos cruzar Field Recordings de ambientes urbanos com o som captado de um jogo de Monopólio a decorrer em directo no estúdio da Rádio Universidade de Coimbra. O paralelo que estabelecemos com o jogo, prende-se com o simples facto dos peões do monopólio circularem através das mais importantes ruas, avenidas e estações de Portugal (edição portuguesa, 2001, Hasbro).  Assim, apresentámos uma colagem sonora que pudesse  recriar o ambiente desses espaços, enquanto o jogo decorria. Daí, que tenhamos escolhido preferencialmente field recordings captados na cidade de Lisboa e Porto. Para tal, recorremos essencialmente à comunidade Soundtransit, um arquivo colaborativo de gravações de campo on-line criado por Derek Holzer, Sara Kolster e Marc Boon, que convida qualquer artista sonoro a realizar o upload das suas recolhas sonoras, contextualizando-as com uma pequena referência ao local, momento de gravação ou história que acrescente outra dimensão ao som fora da díade “espaço-tempo”. O site Soundtransit possui duas formas de navegação distintas, ou através da procura directa de sons (search); ou a mais interessante, através do booking de uma viagem, com a possibilidade de escolha de diferentes escalas, no qual nos é oferecido uma colagem de field recordings em mp3, desde a casa de partida à casa de chegada.

A título simbólico podemos ainda escutar a breve faixa Lament nº1, Birds Lament de Louis Thomas Hardin (Moondog), em homenagem aos seus cerca de 20 anos vividos nas ruas de Nova Iorque, ficando conhecido como The Viking of 6th Avenue.

Ouvimos:

Jogo Monopólio com os locutores da Ruc:

António Sérgio, Carlos Braz, Isabel Lisboa, José Santiago e Luís Luzio

Alvin Lucier –  Wire 1 (excerto) [Music on a long thin wire, 1980]

Son Clair – From the Bridge [From the Bridge] download em Konkretourist

Kamen Nedev –  Tram, Porto [Soundtransit, 2007]

Paulo Raposo – Celebration, Lisbon [Soundtransit, 2005]

Hugo Neutel – Bridge Buzz, Lisbon [Soundtransit, ?]

Kamen Nedev – Raindrops, Porto [Soundtransit, 2007]

Glenn Ryszko – Soundwalk [Soundwalk, 2010] download em Konkretourist

Moondog – Lament nº1, Birds Lament [Moondog, 1989]

Michael Peters Gelato aus der Wartburgstrase in Nippes; download em Soundmap of Cologne

Arnold Dreyblatt & The Orchestra of Excited Strings – Lucky Strike [Propellers In Love, 1988]

Kaspars Groshevs – Porto sounds; download em Archive

Alvin Lucier – Wire 2 (excerto) [Music on a long thin wire, 1980]

Carlo Patrão

.: esta emissão, devido a problemas informáticos, não possui podcast.


Zepelim de 7.4.2010

O último Zepelim consistiu de dois exercícios sobre as músicas “Et Si Tu N’Existais Pas”, do franco-americano Joe Dassin e “Forever and Ever” do greco-egípcio Demis Roussos. Através de alterações ao tempo e ao tom das canções, obtivemos peças muito diferentes dos originais. A textura foi criada pela sobreposição de camadas com diferentes partes das músicas, sujeitas a diferentes processos de alteração da sua sonoridade.

Alinhamento:

Joe Dassin – Et Si Tu N’Existais Pas (Costume Blanc, 1975) [1m2s a 35m40s]

Demis Roussos – Forever and Ever (The Roussos Phenomenon, 1973) [35m41s a 59m59s]

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José Afonso Biscaia

Zepelim |31.03.2010| Listen to Your Child: A Radiophonic Guide to Children’s Behaviour

Esta semana o Zepelim apresentou uma colagem sonora em torno do disco “The Sound of Children” (1967, Folkways) de Tony Schwartz (1923-2008). Schwartz ficou conhecido por ter realizado e produzido mais de 20.000 spots para rádio e televisão, dos quais o mais marcante terá sido o polémico spot televisivo “Daisy” (video), usado na campanha eleitoral de Lyndon B. Johnson, que acabou por ser eleito o 36º Presidente dos E.U.A. Para além disso, Tony Schwartz colocou o seu dedo na História ao conseguir, com uma campanha publicitária anti-tabaco, impedir que as Tabaqueiras fizessem publicidade nos meios de comunicação.

Porém, longe dos grandes palcos de acção, Schwartz revela-se um poço infinito de sons nas suas mais de 10.000 cassetes de paisagens sonoras recolhidas por todo o mundo. Não fosse este imenso arquivo sonoro por si só impressionante, Tony Schwartz era ainda agorafóbico. Daí que uma das suas primeiras edições pela Folkways seja New York 19, ou seja, gravações de campo à porta de casa. Tony Schwartz manteve ainda durante  31 anos um programa de rádio semanal  na WNYC, no qual apresentava os sons da cidade de N.Y. Em 2007, toda a sua obra foi adquirida e arquivada pela Library of Congress.

No disco “The Sound of Children” apresenta retratos sonoros de crianças, incluindo o da sua filha, de uma forma didáctica, uma vez que os comenta no sentido técnico da sua realização (posicionamento do microfone, dispositivos de captação, dicas de edição, etc.). A par do trabalho de Tony Schwartz adicionamos elementos sonoros próximos de uma atmosfera que nos conduz à infância, desde as aventuras  electrónicas dos artistas da BBC Radiophonic Workshop, a elementos relacionados com a exploração do corpo em “Music Overheard – The Body” , o resultado dos workshops de Lionel Marchetti, realizados entre 2003 e 2007 com crianças de 12 a 16 anos de idade, ou a comicidade infanto-grotesca dos Kipper Kids.

Alinhamento:

1.

Tony Schwartz – Introduction [The Sound Of Children, 1967]

Gregory Whitehead – The Problem With Bodies [Music Overheard CD 2 – The Body, 2006]

2.

Tony Schwartz – Nancy Grows Up [The Sound Of Children, 1967]

Lionel Marchetti (& children) – Poursuite [Musique.laclasse.com, 2006]

Lionel Marchetti (& children) – Cot! Cot! Cot! [Musique.laclasse.com, 2006]

3.

Tony Schwartz – The Death of a Turtle [The Sound Of Children, 1967]

Delia Derbyshire Mattachin [Music from the BBC Radiophonic Workshop, 2003]

Lauren Lesko – Thirst [Music Overheard CD 2 – The Body, 2006]

Paul Dutton – Lips Is [Music Overheard CD 2 – The Body, 2006]

Dick Mills – Crazy Dazy (excerto) [Music from the BBC Radiophonic Workshop, 2003]

John Baker – The Frogs Wooing [Music from the BBC Radiophonic Workshop, 2003]

4.

Tony Schwartz – Stories About Your Child [The Sound Of Children, 1967]

Leif Elggren & Thomas Liljenberg – Zzz… (Excerpt) [Music Overheard CD 2 – The Body, 2006]

Pierre Bastien – Les Aigues Errent, si Ceux d’Eu se (dis-)Tillent (excerto) [Eggs Air Sister Steel, 1994]

Paul de Vree – Kids [UbuWeb / PennSound Archive]

5.

Tony Schwartz – Recreating A Story [The Sound Of Children, 1967]

The Singing McMurrays with 2-Year Old Brenda and 4-Year Old BrianPut Your Hand In The Hand/Jesus Loves Me/You Laid Your Hand On The Range [Jesus Is Coming Soon]

Lionel Marchetti (& children)Nature de l’eau [Musique.laclasse.com, 2006]

Delia Derbyshire – Happy Birthday [Music from the BBC Radiophonic Workshop, 2003]

6.

Tony Schwartz – Children and god [The Sound Of Children, 1967]

Jorge Peixinho – Elegia a Amilcar Cabral (excerto) [Elegia a Amilcar Cabral, 1973]

Kipper Kids – Sheik of Araby [High Performance, 1983]

Lionel Marchetti (& children)Le dragon [Musique.laclasse.com, 2006]

John Baker – New Worlds [Music from the BBC Radiophonic Workshop, 2003]

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(edit: links actualizados)

Carlo Patrão

Zepelim de 24.3.2010 – Radio Mystery Theater

Assinalando antecipadamente o Dia Mundial do Teatro, a 27 de Março, o Zepelim explorou o local onde o Teatro e a Rádio se cruzam, o chamado Teatro radiofónico, através da utilização de duas histórias diferentes emitidas originalmente no programa “Radio Mystery Theater”, que a rádio americana CBS emitiu em 1974 e 1982.

O “Radio Mystery Theater”, fenómeno anacrónico no panorama radiofónico dos anos 70 do século XX, foi uma tentativa de reabilitar o Teatro radiofónico, cuja era dourada tinha sido nos anos 30, idealizada por Himan Brown, uma lenda da rádio desses anos, cujos trabalhos mais conhecidos tinham sido os “Inner Sanctum Mysteries” e “The Adventures of Nero Wolfe”. Contudo, apesar do sucesso do programa durante os 8 anos em que esteve no ar, não conseguiu trazer muitos novos aficionados ao género, sobretudo devido à colagem à linguagem utilizada nas séries dos anos 30, demasiado antiquada para os novos espectadores.

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José Afonso Biscaia

A Portrait of Raymond Scott – DECONSTRUCTING DAD: The Music, Machines and Mystery of Raymond Scott

Deconstructing Dad tells the story of Scott’s life and career from a unique perspective, that of his only son, Stan Warnow.
The film is a music-filled biographical documentary about the life and work of Raymond Scott. In addition, it also is a personal investigation into the father-son dynamic — what it means to have a famous father obsessed with his work and the consequent impact on the parent-child relationship.

Raymond Scott was more comfortable with technology than with people, including his own children. This personal angle is intertwined with the compelling story of a true American music innovator — one who had a meteoric rise to household-name success, followed by a slow spiral into obscurity and now, posthumously, a growing acknowledgment of his central role in modern music and music technology. in www.scottdoc.com

Raymond Scott no Zepelim:

Zepelim |09.12.2009| ” Your Hit Parade: Be Happy, Go Lucky!”

Zepelim |25.03.09| Being Pregnant…

Zepelim |24.02.2010| Radio Fragments de André Castro

O Zepelim convidou o artista sonoro André Castro, para visitar os estúdios da Rádio Universidade de Coimbra e apresentar o seu novo projecto Radio Fragments.

Uma estação de rádio é sintonizada, e o software desenvolvido por André Castro, Radio Fragments a partir da plataforma SuperCollider, analisa e selecciona em tempo-real, aquilo que normalmente se procura evitar em contexto radiofónico: pausas, indecisões, espirros, ruídos, espaços mortos. Fragmentos de rádio que são desmultiplicados por diversas camadas de processamento aleatório, originando o tecido sonoro que compõe Radio Fragments. Criam-se espaços entre espaços, não-ditos, hesitações, o respiro antes da palavra e o silêncio. Numa altura em que as rádio nacionais, clonam blocos maciços em formato playlist coloridos pelos mais diversos filtros, Radio Fragments parece servir como um manifesto que devolve ao espaço radiofónico, o erro e a imperfeição.

No início da emissão, ouvimos  a leitura de António Sérgio a um excerto de um conto de Heinrich Böll, “A colecção de silêncios do Dr. Murke”, presente no livro “Contos Irónicos”.

Biografia:

André Castro é um artista sonoro, licenciado em artes sonoras pela Universidade de Middlesex, Londres. Começou a sua formação artística pelas áreas da dança e da performance no c.e.m – centro em movimento no ano de 2001. Foi neste espaço que iniciou o seu trabalho com materiais sonoros, e no qual tem vindo a apresentar e a desenvolver alguns dos seus projectos.

Na sua prática tem-se movido constantemente entre dois universos; Umas vezes pelo mundo da música por computador, com as a suas texturas meditativas, ruídos, blips, algoritmos e construção de software específico. Outras vezes, voltando costas ao ecrã do computador, decide sair com um microfone e dedicar-se à captura da incrível diversidade sonora que nos rodeia, e das vozes e histórias que se escondem em cada pessoa. Comum a estas duas vertentes é o despojamento de elementos visuais que tem caracterizado a maioria dos seus trabalhos.

Para além dos projectos a solo, parte importante do seu trabalho tem-se desenvolvido através de colaborações com coreógrafos, artistas visuais, músicos, e cientistas com um projecto de sonificação de dados científicos realizado no Departamento de Física da Universidade de Aveiro, integrado no programa Experimentação Arte | Ciência e Tecnologia.

Em 2008 concluiu uma série de três documentários sonoros intitulados  Subterrâneos de Lisboa, dedicados ao pouco conhecido mundo subterrâneo desta cidade.

Destaca ainda o projecto Boat People – uma série de registos áudio, de conversas tidas com pessoas que vivem e trabalham em barcos nos canais que cruzam Londres e no rio Tamisa.

Integra, desde 2001, a estrutura c.e.m – centro em movimento.

Radio Fragments (Instalação):

Radio Fragments é uma instalação sonora que procura explorar uma atenção auditiva, diferente da associada à experiência de ouvir rádio, fazendo uso dos espaços-entre-palavras-ou-música ocorridos durante uma emissão radiofónica.

A formula base desta instalação consiste num mecanismo de análise-controle (construído no ambiente de programação para síntese e processamento de som SuperCollider) existente num computador e alimentado ao vivo pela emissão de uma estação de rádio mainstream. Este mecanismo actua em tempo-real sobre a emissão radiofónica, como um noise-gate às avessas, evidenciando aquilo que é normalmente ignorado ou mesmo evitado num contexto radiofónico (suspiros, gaguejos, pausas, espaços-mortos e erros), e suprimindo todos os outros sons tais como palavras ou músicas. Estes fragmentos tornam-se a matéria prima a partir da qual a narrativa sonora de Radio Fragments é construída, fazendo uso de diversos processos de manipulação de áudio, que actuam sobre os fragmentos, desdobrando as suas potencialidades sonoras.

Recentemente, um sistema de luz reactivo, construído com Arduino, foi acrescentado à instalação, o qual reage ao surgimento dos fragmentos, intensificando a intensidade lumínica do espaço momentaneamente, para voltar ao seu estado inicial obscuro assim que o fragmento se deixa de ouvir.

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(edit: links actualizados)

Carlo Patrão &  Afonso Biscaia

Zepelim de 10.2.2010 – Liberdade de Imprensa



A liberdade de imprensa é um dos valores fundadores das democracias ocidentais, consagrado e salvaguardado em diversas legislações posteriores à Revolução Francesa de 1789. Concretamente no artigo 19.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948),  onde se diz que “Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.” [negrito nosso], o que se reflecte no artigo 38.º da Constituição da República Portuguesa,

Liberdade de imprensa e meios de comunicação social

1. É garantida a liberdade de imprensa.
2. A liberdade de imprensa implica:
a) A liberdade de expressão e criação dos jornalistas e colaboradores, bem como a intervenção dos primeiros na orientação editorial dos respectivos órgãos de comunicação social, salvo quando tiverem natureza doutrinária ou confessional;
b) O direito dos jornalistas, nos termos da lei, ao acesso às fontes de informação e à protecção da independência e do sigilo profissionais, bem como o direito de elegerem conselhos de redacção;
c) O direito de fundação de jornais e de quaisquer outras publicações, independentemente de autorização administrativa, caução ou habilitação prévias.
3. A lei assegura, com carácter genérico, a divulgação da titularidade e dos meios de financiamento dos órgãos de comunicação social.
4. O Estado assegura a liberdade e a independência dos órgãos de comunicação social perante o poder político e o poder económico, impondo o princípio da especialidade das empresas titulares de órgãos de informação geral, tratando-as e apoiando-as de forma não discriminatória e impedindo a sua concentração, designadamente através de participações múltiplas ou cruzadas.
5. O Estado assegura a existência e o funcionamento de um serviço público de rádio e de televisão.
6. A estrutura e o funcionamento dos meios de comunicação social do sector público devem salvaguardar a sua independência perante o Governo, a Administração e os demais poderes públicos, bem como assegurar a possibilidade de expressão e confronto das diversas correntes de opinião.
7. As estações emissoras de radiodifusão e de radiotelevisão só podem funcionar mediante licença, a conferir por concurso público, nos termos da lei.

bem como pela maior parte das leis fundamentais dos países que vivem em democracia. Apesar de serem limitadas por diversas outras leis que previnem os danos que poderiam ser causados à quem se veja injustamente acusado, como aquelas que punem a difamação e a injúria escrita (artigos n.º182, 183 e 184 do Código Penal, por exemplo),  as liberdades de imprensa e expressão criaram problemas, especialmente a políticos, de que o exemplo mais fulgurante será o caso Watergate, que culminou com a demissão do presidente Nixon dos EUA (1974).
Este assunto, apesar de ser sempre actual,  ganhou um enorme destaque nas últimas semanas, em particular em resultado do que tem acontecido no sobejamente publicitado caso “Face Oculta“, e à volta do mesmo. A partir destes elementos, o programa utilizou excertos de intervenções públicas de vários políticos acusados de atentarem ou tentarem atentar contra a liberdade de imprensa, como Benito Mussolini, Fidel Castro, Hugo Chavez, Silvio Berlusconi, José Sócrates ou Alberto João Jardim, de dois jornalistas portugueses que acusam o actual governo de cercear a sua liberdade de expressão (Manuela Moura Guedes e Mário Crespo), possíveis posições no debate sobre a natureza e as limitações destas liberdades (José Pacheco Pereira e José Sá Fernandes), para além de algumas notícias sobre temas realacionados.

Mapa da Liberdade de Imprensa no Mundo

Alinhamento

Silêncio de Cavaco Silva antes de fazer uma declaração ao país [1m12s -1m55s]
Saudação de Cavaco Silva antes de fazer uma declaração ao país [1m56]
Manuela Moura Guedes – Foram Cardos, Foram Prosas (Alibi, 1982) [1m57-5m44s]
Manuela Moura Guedes na abertura do “Jornal Nacional” [2m-5m40s]
Hugo Chavéz discursa contra a estação televisiva venezuelana Globovisión [5m05s-9m44 e 10m39s-16m55s]
Hugo Chavéz – Con Amor al Pueblo (Canciones de Siempre, 2007) [9m44s-17m25s]
José Sócrates acusa a imprensa de o querer atacar pessoalmente, na sequência do caso “Freeport[17m22s-19m26s]
Notícia da SIC-Notícias sobre a crónica de Mário Crespo que não foi publicada no Diário de Notícias [18m05s-19m36]
Lichens – M st r ngn W teher ft L v ng n [Omns, 2007][19m10s-37m41s]
Excerto do discurso de Hugo Chavéz contra a Globovisión “No no no, es otra cosa, compadre !” [19m36s-19m38s]
Alberto João Jardim insulta a imprensa “do continente” [19m39s -19m54s]
Introdução [20m41s-21m38s]
Debate da Subcomissão Parlamentar da Área da Comunicação Social e dos Direitos Fundamentais [23m05s-29m30s]
Excerto de um Debate Plenário na Assembleia da República [28m52s-31m50s]
Notícia sobre a saída do Google do mercado chinês, devida a ataques informáticos a defensores dos direitos humanos na China [29m05-31m08s]
Mário Crespo comenta o silêncio de Cavaco Silva antes da sua declaração ao país [31m10s]
Silêncio de Cavaco Silva antes de fazer uma declaração ao país [37m34s-38m24]
Discurso de Benito Mussolini aos americanos em 1929 [38m24s-39m33s]
Notícia sobre o desmentido de Silvio Berlusconi acerca do seu envolvimento nos ataques que o jornal “Giornale”, propriedade da sua família, ao jornal “L’Avvenire” [39m30s-41m28s]
José Pacheco Pereira critica, no programa “Quadratura do Círculo” a ordem da Câmara Municipal de Lisboa de retirar um cartaz do PNR que considerou xenófobo [41m21s-41m05s]
José Sá Fernandes justifica, à rádio TSF, a ordem da CâmaraMunicipal de Lisboa de retirar um cartaz do PNR que considerou xenófobo [41m02s-42m51s]
Fidel Castro é entrevistado no programa “Meet the Press”, em 1959 [42m50s-43m42s]
Biosphere – Warmed by the Drift (Dropsonde, 2006) [43m41s-50m38s]
Afonso Biscaia, Carlo Patrão e Lígia Anjos rasgam jornais [44m32s-49m24s]
Pat Candell, “Freedom of Speech is Sacred” [46m56s-50m46s]
Despedida [50m16s-40m45s]
Biosphere – In Triple Time (excerto) (Dropsonde, 2006) [50m38s-53m41]
Excerto do discurso de Hugo Chavéz contra a Globovisión “No no no,  es otra cosa,compadre!” [53m47s-53m49s]
Hugo Chavéz – Con Amor al Pueblo (Canciones de Siempre, 2007) [53m48s-58m18s]

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Afonso Biscaia

Em breve no Zepelim: “Radio Fragments” de André Castro

Radio Fragments is a radiophonic project that aims to explore an auditory attention, different from the one usually associated with the experience of listening to the radio, making use of the spaces in between words and songs that occur throughout the radiophonic discourse as its main reagent.

Its basic formula consists of an analysis-control mechanism (built in Super Collider) residing inside a computer to which a real-time mainstream radio broadcast is fed. This mechanism acts as a reversed-noise-gate, singling out what is usually ignored or avoided in a radiophonic context (whispers, stumbles, pauses, dead spaces and errors) and muting all the other sounds such as words or songs.These punctuating fragments become the raw materials from which Radio Fragments sonic concoction is brewed.

André Castro

Zepelim |03022010| Hacking Insects

(…) # Rule number 6: Many hacks are like butterflies: beautiful but short-lived

(Handmade Electronic Music – The art of hardware hacking de Nicolas Collins)

A premissa que fundou esta emissão de Zepelim, prendeu-se com a constatação de um possível paralelo sonoro entre a música obtida através de técnicas de hardware hacking e o som realizado por várias espécies de insectos. Cruzamos captações sonoras de insectos que habitam as florestas do norte da Tailândia, com a compilação que acompanha o manual Handmade Electronic Music – The art of hardware hacking de Nicolas Collins, deixando que ambas sonoridades se dissolvam num mesmo ambiente homogéneo.

Nicolas Collins - Graduation from Wesleyan, 1976. Alvin Lucier and Nicolas's mother

O compositor Nicolas Collins nasceu em 1954, em Nova Iorque. Aos 18 anos inscreveu-se na Wesleyan University, inicialmente pelo seu interesse em estudar música indiana mas rapidamente expandiu os seus objectivos quando conheceu o compositor Alvin Lucier, autor de peças como I’m sitting in a room (1969) ou Vespers (1968) – que podem ser escutadas aqui. Lucier foi membro fundador do colectivo de músicos Sonic Arts Union ao lado de Robert Ashley, David Behrman, ou Gordon Mumma e, imprimiu em Nicolas Collins a ideia de que a música pode conter referências estruturais fora de si mesma, na biologia, arquitectura, neurologia, etc. Para além do colectivo Sonic Arts Union, Collins cedo tomou contacto com o trabalho de John Cage, a partir de várias residências feitas na Wesleyan University durante a década de 70.

Nicolas Collins performing Pea Soup inside an installation of Niche, PS1, Long Island City, NY, 1980

Collins, veio a tornar-se num pioneiro no uso de micro-computadores em performances ao vivo, colocando em prática a intervenção em circuitos electrónicos (circuit-bending) a partir de objectos de uso quotidiano como pequenos rádios e baratos e ingénuos brinquedos (ex. toy keyboards), arte a que apelida ironicamente de “glue technology”. Para além da modificação de pequenos objectos electrónicos, Collins dedica-se a reinventar instrumentos como a guitarra (“The Backwards Electric Guitar“) ou o trombone (“Trombone-Propelled Electronics“). Actualmente, Nicolas Collins é o responsável pelo Department of Sound at the School of the Art Institute of Chicago. Foi, então, em 2006 que o compositor nova- iorquino edita o manual de iniciação à modificação de objectos electrónicos com vista à sua expansão e criação de novas experiências sonoras, de nome Handmade Electronic Music – The art of hardware hacking. Como suplemento ao livro, Collins reuniu numa compilação vários artistas mestres na arte de hardware hacking como Peter Cusack, Andy Keep ou John Bowers, do qual retirámos as faixas:

Nicolas Collins – sl loop excerpt

John Bowers – Study one for victorian synthesizer

Josh Winters – Radio study 4

Phil Archer – Yamaha pss-380

Yasunao Tone – Imperfection theorem of silence

Peter Cusack – Baikal ice excerpt

Collin Olan – rec01 excerpt

A abrir e a fechar emissão apresentamos um breve excerto de um dos episódios do programa de rádio norte-americano “The Mysterious Traveler“. A série radiofónica The Mysterious Traveler, começou a ser emitida pela Mutual Broadcasting System a Dezembro de 1945, e pretendia suscitar o terror aos ouvintes, pela dramatização de contos de ficção científica, escritos por Robert Arthur e David Kogan e narrados por Maurice Tarplin: This is the Mysterious Traveler, inviting you to join me on another journey into the strange and terrifying. I hope you will enjoy the trip, that it will thrill you a little and chill you a little. So settle back, get a good grip on your nerves and be comfortable — if you can! . Escolhemos o episódio “The Man The Insects Hated” como breve referência ao lugar que os insectos ocupam no imaginário colectivo perto da fobia e da angústia de perseguição.

Lista de insectos escutados: Aola bindusara, Ayuthia spectabile, Cicada ventriroselus, Cryptotympana aquila, Cryptotympana sp., Dundubia interemata, undubia nagarasingna, Dundubia spiculata, Macrosemia chantrainei, Macrosemia tonkiniana, Meimuna nauhkae, Meimuna new, Meimuna tavoyana, Orientopsaltria cantavis, Platylomina umbrata, Pompona scitula, Pomponia dolorosa, Pomponia fuscuoides, Pomponia intermédia, Pomponia linearis, Salvazana mirabilis, Tosena albata, Tosena melanoptera, crickets, carpenter bee, longhorn beetle, katydid, death’s head hawk moth…

Ao longo da emissão acrescentámos ainda excertos de faixas do compositor Harry Partch,  Ballad for Gymnasts aos minutos 1:30 e 6:00, The dreamer that remains- a study in loving (19:06′) e Windsong (37:21′) e Pierre Henry – La Reine Verte (Les Insectes) (18:19′)

http://2.bp.blogspot.com/_Rf9S3GkkeyI/SEvATEUsU0I/AAAAAAAAAps/_niJ9vxvjew/s320/steve+ditko.+tales+of+the+mysterious+traveller.+no.+006.+cover.jpg

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(edit: links actualizados)

Carlo Patrão

Zepelim |21.01.2010| Milarepa & Cho Oyu

Depois de duas emissões de “excesso ruído”, o Zepelim  entra em retiro contemplativo no cruzamento entre duas experiências sensoriais distintas, tendo o Tibete como cenário de fundo. Partimos nesta emissão, por recuperar o disco Songs of Milarepa (1983, Lovely Music) da compositora francesa Eliane Radigue. Nascida em Paris, no ano de 1932, Radigue estudou técnicas de música electro-acústica no Studio d’Essai da R.T.F., sob a direcção de Pierre Schaeffer e Pierre Henry (autor da faixa Psyché Rock, que mais tarde seria adaptada para a série televisiva Futurama).  Durante cerca de dez anos, investiu na sua formação musical clássica a partir dos instrumentos harpa e piano. No início dos anos 70 trabalhou na New York University School of the Arts e nos estúdios de música electrónica da Universidade de Iowa e no Instituto de Artes da Califórnia, altura em que começou a desenvolver o seu trabalho com o ARP 2500, que passou a ser o instrumento quase exclusivo ao longo da sua discografia. Em 1974, Eliane Radigue deslocou-se ao Mills College, a convite de Terry Riley, para apresentar o seu primeiro Adnos, onde contactou com um grupo de estudantes franceses que compararam a fluência e itensidade dos seus drones com a profundidade da escola do Budismo Tibetano. Eliane Radigue inicia a partir daí o estudo e práctica do Budismo Tibetano auxiliada pelo guru Pawo Rinpoche, cessando a sua actividade artística durante cerca de três anos. Durante esse período de aprendizagem, Eliane contactou com poemas do tibetano Jetsun Milarepa. Milarepa,  viveu durante o século XI (d.c), dedicando vários anos da sua vida à solidão das montanhas. Após uma vida de reflexão e contemplação alcançou um elevado e iluminado entendimento que o permitia explicar as complexas questões que os seus discípulos lhe colocavam, espontaneamente em estilo de poema ou de canção. Apesar da sua biografia estar envolta numa nuvem de romance, afirma-se que tenha composto 100,000 canções para comunicar as suas ideias, enquanto ensinava e conversava. Um largo número de histórias e canções de Jetsun Milarepa foram traduzidas para várias línguas ocidentais, muitas resistindo ao tempo apenas pela expressão oral. No disco Songs of Milarepa, Eliane Radigue recupera as canções de Milarepa presentes no livro Drinking the Mountain Stream, e convida Lama Kunga Rinpoche, para as cantar em Tibetano, enquanto Robert Ashley dá voz à tradução inglesa sobre os drones do ARP 2500. Nesta emissão podemos escutar duas faixas retiradas de Songs of Milarepa: “Song of the Path Guides” (21:01min.) e um alongado excerto de “Eliminations of Desires” (17:17min.). Mas Songs of Milarepa, foi apenas o primeiro trabalho que Eliane Radigue dedicou ao poeta tibetano, seguiu-se em 87 o disco Jetsun Mila, em 92, Mila’s Journey Inspired by a Dream e em 98 a Lovely Records reedita Songs of Milarepa numa edição em dois discos.

Às faixas de Songs of Milarepa destacadas neste Zepelim, cruzamos os Field Recordings do músico norueguês Geir Jenssen, também conhecido como Biosphere, presentes em Cho Oyu 8201m – Field Recordings From Tibet (Ash International, 2006). Para além da sua vida artística, Jenssen pratica montanhismo e foi na escalada à sexta montanha mais alta do mundo Cho Oyu com 8.201 metros, situada a 20 km oeste do monte Evereste que gravou com um pequeno MiniDisc, os field recordings presentes em Cho Oyu 8201m. Estas captações, funcionam como um diário sonoro da sua escalada, feitas de momentos de espera, antecipação, vento, chuva e de pequenas escutas hertzianas como último contacto com a civilização.

Se através de Eliane Radigue a montanha é um símbolo de nascimento filosófico e poético, em Geir Jerssen a montanha é um obstáculo conquistável, coisa do corpo.

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Carlo Patrão


Zepelim |06.01.2010| Overpopulation

André Rocha - Vazio

Segundo episódio de uma pequena série de programas dedicados ao “excesso”, nesta emissão olhamos para o fenómeno de sobre-população. Na década de 60, os media inauguravam os primeiros debates e discussões sobre a eminência do excesso de população face à escassez de recursos, conduzindo a alguma histeria. As Nações Unidas alertam actualmente que a população do mundo irá duplicar nos próximos 40 anos. Como exemplo, a Índia com 1,17 biliões de pessoas, e com um crescimento médio de 1,6 por ano, torna verdade o que o senso comum tomaria como anedota recorrente, segundo a Times: The minister called on India’s television channels to provide high-quality programs, arguing that enticing  content would offer alternative late-night entertainment. Por outro lado, no Afeganistão apenas  14% dos nascimentos originarão adultos saudáveis. Mitos, becos, dados, balanços, distribuição, conspirações, excesso…

Povo alinhado:
Ollie Hall – Asakusa [Japan Field Recordings, 2009]
Ollie Hall – Asakusa Arcade [Japan Field Recordings, 2009]
Ollie Hall – Veloce Coffee Shop [Japan Field Recordings, 2009]
Greg Marguerite reading “This Crowded Earth” of Robert Bloch (excerto)
Erica Buettner reading french names
Jimmy Behan – Awake [The Echo Garden, 2009]
Population stupidity finally exposed
Scanner – Tate Modern Voices [created for Tate Modern Musicircus, 2006, unreleased]
Catherine Jauniaux – Origine des Femmes [Fluvial, 1983] (excerto)
Greg Davis – Pythagorean [Primes, 2009]
Catherine Jauniaux – Kebadaya [Fluvial, 1983]
Dana Boulé + Cristian Sotomayor – There’s too many people in the world (original piece)
Erica Buettner reading english names and their meanings
Overpopulation: The Making of a Myth
Era uma vez um arrastão (excerto)
John Lennon’s Opinion about Over Population
Machinefabriek and Stephen Vitiello – Bells, Book, Tin foil, Buttons [Box Music, 2008]
A Nosa Fala – Lougares – Lougares – Mondariz [Arquivo Sonoro de Galicia]
A Nosa Fala – Abelán – Fornelos – Salvaterra de Miño [Arquivo Sonoro de Galicia]
Jasper-TX – Mornings After [Singing Stones, 2009]
Glenn Beck: US Mexico Border Violence (excerto)
Ollie Hall – Waiting for Shinkansen [Japan Field Recordings, 2009]
Afonso Biscaia Lígia Anjos leêm lista de vocábulos admitidos e não admitidos como nomes próprios pelo Instituto de Registos e Notariado de Portugal
Leyland Kirby – The sound of music vanishing [Sadly The Future Is No Longer What It Was, 2009]
Julie Doiron – Life of Dreams [I can wonder what you did with your day, 2009]

Especial obrigado a Erica Buettner, Dana Boulé, Cristian Sotomayor, José Afonso Biscaia & Lígia Anjos

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(edit: links actualizados)

Carlo Patrão

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